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Resenha: Cão #1
Por Eloyr Pacheco
19/07/2007

É muito difícil manter o nível de uma publicação, ainda mais quando se trata de uma publicação independente que surgiu chamando muito a atenção, tanto da crítica quanto dos leitores. A grande expectativa gerada pelo segundo número (no caso da Cão, o número 1, pois o primeiro número foi o 0) pode tornar-se um empecilho, uma barreira a ser quebrada, pois a responsabilidade aumenta ainda mais.

Não creio que no caso da Cão tenha sido este o fator da edição 1 ser (ligeiramente) inferior ao número 0, pois estamos falando de uma publicação experimental, que busca novos caminhos para narrar uma história, e os autores não deixaram de fazer isso, pelo contrário, insistiram na idéia. A edição não é produzida para ser comercial (utilizo o termo aqui para aqueles Quadrinhos que são vendidos em bancas), mas uma alternativa. Saltar do Japão Medieval para um futuro distante foi pensado quando uma das referências estudadas pelos quadrinhistas é Ronin, de Frank Miller. E, então, as HQs são inspiradas diretamente em Blade Runner: O Caçador de Andróides, de Ridley Scott. Cão #1 começa chamando a atenção pela capa. A aplicação de metalização na capa ficou muito boa, qualquer outro teria feito a aplicação na capa ou no personagem central da ilustração. O designer acertou em cheio ao aplicar no fundo e aproveitar o branco do papel para “desenhar” a Lua. Ponto para os editores.

Ao contrário da edição anterior, que tem seis HQs em 24 páginas, este número tem quatro HQs em 32 páginas, mas, ao final da leitura, este número não me proporcionou o mesmo sentimento que tive ao ler a Cão #0, que me pareceu oferecer muitas novas experiências e mexeu com minhas sensações de forma variada. Talvez porque a HQ Go, com roteiro de Harriot Junior (entrevistado pelo Bigorna.net aqui) e arte de Marcelo Manzano, sirva mesmo apenas como introdução, como uma apresentação em Quadrinhos que nos leva para dentro da edição e a história principal de 16 páginas ocupe muito espaço e seja um pouco complicado compreendê-la. A alternância entre os desenhistas acrescentou pouco a New User - que tem roteiro de Harriot Junior e arte de HErvilha e de Rodrigo Taguchi -, pelo contrário, acaba confundindo um pouco o leitor, que passa a procurar um significado para os dois estilos diferentes de desenho. Na verdade, não há uma razão para os dois estilos em uma mesma história (pelo menos eu não encontrei, creio que o desafio aqui foi o trabalho em equipe para fazer a HQ). O roteirista poderia ter optado por um dos desenhistas para mostrar, por exemplo, a ótica/o ponto de vista de um dos personagens. O excesso de quadros em algumas páginas também prejudicou o storytelling. O exemplar que tenho em mãos tem a impressão escura (não sei se todos saíram assim da gráfica) e isso não me deixou ver melhor as páginas pintadas por HErvilha.

A melhor história da edição é Roberto Inc., com roteiro e arte de Ko Ming. Objetiva, direta, inteligente, instigante. Uma das seqüências é trabalhada em página dupla e surpreende pelo movimento/ação que proporciona à narrativa. Num futuro distante, a utilização do sotaque de “pai-de-santo-negro” me fez rir num primeiro momento, mas depois, a tensão da HQ me envolveu. A edição fecha com a HQ Old Melody, de Harriot Junior e Joana Cristina, que (muito hermética) oferece ao leitor belos quadros. Cão segue seu caminho de experimentalismo com coragem e ousadia. Algo que falta há muitos quadrinhistas e que sobra para esta equipe que tem muito ainda para mostrar. Que venha o próximo número!

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Resenha: Cão #0

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