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Caricas de Almas Azuis em BH
23/09/2009

Expo dos Mestres do Blues&Soul

Muddy Waters

Minha paixão pelo Blues começou quando (em 1982) meu grande amigo Marcatti me apresentou em vinil, o som de Muddy Waters e Johnny Winter. Já em 2009, no fim de semana do dia 12 de setembro, fui pra Belo Horizonte a convite de Afonso Andrade, representante da Fundação Municipal de Cultura de BH e um dos organizadores do Festival Internacional de Quadrinhos, o FIQ. A idéia dessa exposição havia surgido há 2 anos atrás, no quinto FIQ quando o Afonso e Roberto Ribeiro viram o pôster de caricas de Blueseiros no BiraZine.
Lá estavam os consagrados Robert Johnson, Blind Boy Fuller, Bessie Smith, Memphis Minnie, Leadbelly, ‘Ma Rainey, Barbecue Bob, Sonny Boy Williamson I e II, Willie Dixon, Blind Blake, Blind Lemon Jefferson, Blind Willie McTell, Lerroy Carr, entre outros.
 
MANO CLÓ
Eu já curtia Soul, Rock’n Roll e Hard Rock, influenciado pelo Clovis, um dos meus irmãos mais velhos. Morávamos no Rio de Janeiro, e ele fazia bailes nas casas dos amigos com uma boa coleção de discos. O mano Cló sempre teve um ótimo gosto para música e descobriu raridades garimpando dezenas de lojas de discos do Rio a Natal (RN). Ele curtia de MPB ao Rock, passando por Música Regional, Forró, Jazz, Rock pauleira, Progressivo e claro, Soul. Assim, cresci ouvindo uma verdadeira salada russa musical: Led, Pink Floyd, Lula Côrtes, Gonzagão, Gonzaguinha, Tim Maia, James Brown, Elis, Zé Ramalho, Alceu, Black Sabbath, AC/DC, Elba, Amelinha, Banda de Pau e Corda, Coisas Nossas, Quinteto Violado, Boca Livre, Elton John, Beatles, Rolling Stones. Eu não sabia que algumas das belas e pesadas canções do Led Zeppelin haviam sido compostas por blueseiros como Willie Dixon e Memphis Minnie.
 
MARCATTI
Pois foi o quadrinhista Marcatti (também morador do Tatuapé na década de 80), que me apresentou McKinley Morganfield (vulgo Muddy Waters), que fez a cabeça de uma criança chamada Johnny Winter, que o levou pra gravar discos depois de tirá-lo da gravadora onde (pasmem!) ele pintava paredes depois que a venda de seus discos caíram. Ele me contava essas histórias, entre goles de Ypioca e páginas de HQs e revistas “Udigrudi”, impressas numa Rex Rotary de mesa. Marcatti toca gaita, violão e guitarra slide. Teve algumas bandas de Blues. Gatos Pardos (com Fátima Pires, sua mulher e ótima tecladista, Marcio Baraldi no Baixo e Magrão na bateria) e Easy Blues (com Herbert Perez e Marcelo Velehov nos violões).
 
CLAUDIA
Daí a minha paixão só aumentou. Mudei pra Campinas, casei com a Claudia Carezzato (minha parceira de cama, mesa, banho, Quadrinhos e karaokê). Eu já tinha umas dezenas de discos de Blues, que ouvia sem parar no Bar. A Clau tinha um violão. Certa vez, chegou em casa e eu estava com um chapéu na cabeça tentando tocar Come on in my kitchen de Robert Johnson. Ela riu muito e disse que não bastava o chapéu e um copo pra fazer aquele som. Ela me deu uma guitarra de presente e sugeriu que eu fosse atrás de um curso. Mas eu não tinha talento pra coisa. Um ano e meio depois ela sugeriu que eu abandonasse a elétrica Piri Som vermelha (rs). Nós abrimos a Videoverso, uma vídeo-locadora&bar. Lá, de tanto ouvir Blues, comecei a fazer caricaturas a partir das fotos das capas dos discos, agora, centenas. Lá fiz uma exposição com essas caricas. Anos depois, comprei uma gaita diatônica “C” Marine Band Hohner, folheada a ouro, comemorativa dos 200 anos da marinha alemã. Passados alguns meses soprando/atrapalhando os colegas de trabalho e até reuniões de diretoria no Sinergia, em Campinas, comecei a tirar “de ouvido” blues, baiões, forrós, clássicas e chorinhos, como tenho tocado em eventos como Troféu Angelo Agostini, FIQ e HQMIX.
Era o “meu” instrumento! Em abril deste ano, expus estas caricas na Casa de Cultura Tainã na V. Manoel da Nóbrega, em Campinas, onde toquei gaita na Jam Session Noite de Blues, com a ótima banda Song Brothers do Márcio Rocha; meu amigo, o designer Airton da Território de Criação tocou percussão.
 
A EXPO

John Hammond

Tudo acertado com o FIQ: mas as caricaturas não seriam só Blueseiras, por conta da adoração de dezenas de dançarinos mineiros pelo Soul. Tal qual perfeitos James Browns, Wilson Picketts, Toni Tornados, Cassianos e Tim Maias (com todo o seu “Racional”), eles requebram seus corpos suados, vestindo ternos, coletes e chapéus estilosos ao melhor estilo do som da Motown, a mais bem sucedida gravadora da Black Music nos anos 70. A sugestão foi que eu visitasse dois “points” do Soul na capital mineira: o Quarteirão do Soul e o Baile Soul da Serra do Centro Cultural Vila Marçola, e assim completasse a série de 20 painéis com artistas do Blues e do Soul que ficará em exposição no FIQ este ano. O mais interessante era a idéia de retratar as figuraças que dançam à tarde no Quarteirão e à noite, no Baile. Anônimos que só se importam em extravasar o sentimento em passos ensaiados por décadas a fio, todo sábado em BH. Acho que poucos artistas têm a oportunidade de experimentar um pouco da realidade do local ou do grupo de pessoas que vão ser retratados em ilustrações. Em época de e-mail, youtube, facebook, multiply, fotolog, twitter, se resolve tudo pela Internet, da forma mais impessoal possível. Não neste caso. A minha presença “in loco” era condição “sine qua non” como diria o presidente Lula.
 
DESENHANDO O POVÃO EM BH
Lá fui eu, de mala, cuia, prancheta, papel e lapiseira. Primeiro uma feijoada completa, com direito a caipirinha e cerveja no Othon Hotel. Pensei em deitar, mas ao lembrar que o meu ex-aluno Fabiano Carriero tinha dito que o Salão de Humor de BH estaria aberto, corri pra lá. Maravilha de salão na Casa do Baile, cartuns sobre a humanidade e o lixo que produzimos. Caricas fantásticas espelhadas na linda lagoa da Pampulha. Documentário sobre Henfil e seu humor ferino. Nada dos cartunistas Duke, Márcio Leite (Brazil Cartoon) ou Massoud Shojai Tabatabai (Irã Cartoon), eles já tinham zarpado. Dei uma cabeçada na porta de vidro da sala de cinema, deve ter sido coisa do Baixim do Henfil. Mais uma olhadela nas artes e lá estava o Afonso, pronto a me levar ao mundo do Soul Belorizontino. Conheci fugaz, mas definitivamente pessoas como Abelha, o DJ e responsável pelo verdadeiro baile a céu aberto; Jorge e Henrique, que me arrastaram pela rua pra desenhar seus conhecidos, em meio à multidão que delirava com os acordes repetitivos e swingados da Black Music.

Desenhei todos que pude, Abdias soltou o cabelão, Felipe mostrou a musculatura de quem “puxa ferro” na academia, Pablo Punk caricaturou vários transeuntes –eu incluso- e prometeu fazer caricas lá no Quarteirão. Henrique, um animado senhor de seus 60 anos, fez um spacatto de dar inveja a muita bailarina de 15. Walter Soul me segredou que procurava quem o caricaturasse. Geraldão, estiloso num colete e chapéu garbosos, mostrou que também desenha e me contou que estudou arte quando mais moço, e que os pincéis e bicos de pena faziam parte de sua vida, assim como os sapatos de bicos finos e 2 cores... Pausa para um banho, jantar e me preparar pra segunda etapa: o Soul na Serra na Vila Marçola, ponto alto da cidade, paralelo ao Mirante.

De lá do alto, noite escura, luzes da cidade, eu e Afonso batemos um bom papo sobre Quadrinhos, Literatura e Cinema, Alan Moore, Will Eisner, Craig Thompson, Laudo, Marcatti, Quarto Mundo. Desenhei Jupira e Walter (do Centro Cultural), o DJ Valter, os requebrantes Xandinho, Flávio, Reginaldo, Liane e Tonhão. Henrique estava lá também, infelizmente na pude ver seu passo de dança. Estávamos pra lá de atrasados. O que impressionou no Baile foi a quantidade de crianças: Tatá, Daniel, Felipe, Vitor, William, Richard, Kelly, Giulia, Amanda, Alice, Kaic, Ismael, Luany, Lorrayne, Carolina. Elas não sabem que foi James Brown, mas curtem o seu ritmo e dançam como seus pais. Só posso dizer que conhecer em carne, osso e dança, a turma que chacoalha o esqueleto em BH foi uma curtição “legal pacas, mora?”. Devidamente ciceroneado pelo Afonso Andrade, da Fundação de Cultura, rabisquei muita gente, do vovô ao netinho, todos ao som contagiante de James Brown e afins. Valeu pela oportunidade, Afonso! Estarei azul de Blues e com a alma bem swingada nesta exposição montada em 20 painéis de quatro faces, assim distribuídos:

1.Quarteirão do Soul + Marçola
2.Quarteirão do Soul + Marçola
3.Quarteirão do Soul + Marçola
4.Albert Collins
5.James Brown 1 + James Brown 2
6.Soul Brasil
7.Blues Geral 1 + Blues Geral 2
8.Ray Charles
9.Etta James
10.John Lee Hooker
11.Louis Armstrong
12.Bessie Smith
13.Buddy Guy
14.Howlin’Wolf
15.Johnny Shines + Mance Lipscomb
16.Memphis Slim
17.BB King
18.Eric Clapton
19.Willie Dixon
20.Wilson Jones

Aqui você pode ler a entrevista que fizeram comigo. E aqui (Papo de Artista), aqui (Portal Belo Horizonte) e aqui (Diário Oficial) a repercussão da Expo na imprensa local. Quer saber mais sobre o FIQ? Clique aqui e aqui. Mais caricaturas de blueseiros aqui e aqui.

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