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Linda, Loira, Sensual e Adora Sangue
Por Laudo Ferreira Junior
03/12/2007

Capa de uma das edições da
revista da Naiara com arte do mestre Nico Rosso

Alguns personagens clássicos dos Quadrinhos nacionais estão vivos até hoje na memória dos fãs e leitores, como é o caso, por exemplo, do Raio Negro, criação do mestre Gedeone que vem tendo suas antigas Histórias em Quadrinhos republicadas pela Editora SM em revista própria, outros acabam caindo no esquecimento e vez ou outra, algum cara desacorçoadamente fã o retira do limbo. Alguns, ainda hoje, são obras modernas e atuais que mereciam uma republicação ou mesmo uma revitalização. Uma dessas personagens é sem dúvida Naiara, a Filha de Drácula. Naiara é uma deliciosa e fatal vampira e como se não bastasse loira e filha do vampiro-mór, o Conde Drácula (óbvio, como o título da série diz!!). A personagem foi criada no final dos anos 60, mais especificamente entre 1967 e 1968 pela roteirista Helena Fonseca em parceria com o grande mestre Nico Rosso e teve suas revistas publicadas pela Editora Taika, uma editora que durante este período publicou muito Quadrinho nacional de diversos gêneros. Embora outra grande criação feminina do gênero terror, Mirza, uma vampira criada por outro mestre, Eugênio Colonesse, seja mais popular que a filha de Drácula, Naiara mostra ao longo de suas poucas revistas publicadas, malícia, despojamento, atitude, vanguarda, despudor numa época em que a ditadura militar impunha sua força em nosso país com mãos (e tudo mais) de ferro.
          
Em suas HQs, Naiara, mesmo sendo filha do renomado senhor dos vampiros, mostrava-se uma jovem revoltada contra o modelo patriarcal de seu papai Drácula. Isso mesmo. Eram inimigos mortais. Ah, essa juventude... anos 60, lembram? Embora certas coisas não mudem. Mas havia detalhes em seu modo de ser que aí sim, dava todo o diferencial. A começar pelas pouquíssimas roupas que usava, sempre mostrando suas esguias pernas e corpo perfeito, seios pequenos e cinturinha fina, características das deliciosas mulheres do mestre nico Rosso (sim, pessoal, eu era e sou apaixonado pelas mulheres do mestre!!!!). Um detalhe muito importante é que, ao contrário dos vampiros ávidos por um pescoço, Naiara era avessa a essa atitude escatológica, digamos, nada de meter a boca ali naquele pescoção e ter sua boca lambuzada pelo néctar que dá sustentabilidade aos vampiros. Naiara, loira, bonita e extremamente chique, sangrava suas vítimas até a morte usando a arma que fosse, faca, estilete, e depois bebia o sangue numa belíssima taça de ouro, em algumas ocasiões. Estilosa, chique. Completamente. A loira tinha também um Leão-vampiro de estimação. Sim, um leão-vampiro. Como isso? Bem, isso deveria ser explicado pelos seus criadores. Mas essa mascote durou alguns números e logo fora executado pelos caçadores da vampira.
          

Naiara numa versão mais "sarada" feita por esse vosso escriba - clique na imagem para ampliá-la

Mas com todo esse estilo sensual e elegante, Naiara também era extremante sádica e sem remorso ou culpa alguma. Fazia o que fosse e da maneira que fosse preciso para se livrar de quem atravessasse no seu caminho. Apesar de ter tido sua própria revista, a personagem teve vida curta. E nunca mais voltou a ser publicada pelos seus autores. Há questão de uns dez anos, conversávamos eu, o roteirista Dark Marcos e o editor e criador do Prêmio Angelo Agostini, Worney de Souza sobre essa grande personagem dos Quadrinhos e foi aí que pensamos em criar uma nova história com Naiara, trazendo ela à tona, quase trinta anos depois de seu desaparecimento das bancas. O desaparecimento da vampira, justamente seria o mote de uma nova história. Lógico que a essa altura eu dava pulos de euforia, pois já é sabido pela minha predileção em trabalhar com personagens femininas, loiras e meio... ”bad girl” e Naiara estava no topo do gênero.  O Dark escreveu o roteiro, porém antes leu todas as histórias da personagem fornecidas pelo Worney e teve alguns toques no tamanho da história dado pelo Franco de Rosa. Eu como sempre tive a mania de mexer muito no caldo pra esquentar a coisa, propus algumas mudanças mais hardcore na personalidade da vampirona loira, como aumentar mais o teor erótico e ela ser uma bissexual assumida, essa ambigüidade sexual por sinal, é algo comum dentro da mitologia moderna dos sugadores de sangue. E mudar seu figurino, embora o clássico seja tremendamente moderno e fashion. Claro, fui barrado. “Está fora do que é a personagem!” Mesmo??? 
          

A vampirona loira pronta pra colocar
mais um na "lona"

O título A morte como ela é, foi uma brincadeira que o Dark Marcos fez com a famosa série de contos (e depois quadro do Fantástico) A vida como ela é de Nelson Rodrigues, aliás, esse tipo de brincadeira é muito comum com meu parceiro roteirista. Mestre dos trocadilhos, alguns, às vezes infames. Mas deixa isso pra lá...  Na HQ que fizemos, dois jovens repórteres (originalmente seria um casal de repórteres, até para mostrar a “bissexualidade” proposta inicialmente para Naiara) de uma revista sensacionalista que vão até uma cidade do interior investigar sobre uma misteriosa loira que supostamente aparecia na caça de vítimas, alicerçados ao mito da vampira Naiara, os dois debochados repórteres chegam na cidade mais a fim de se divertir do que propriamente investigar sobre o assunto, visto que, eles mesmos não crêem no que escrevem. E é nessas noites de bagunça na pequena cidade que acabam topando com uma... misteriosa loira... e aí... bem... aí seria interessante que você, meu amigo, lesse a história. A HQ ainda contou com uma discreta participação do papai Drácula, com um visual baseado no jeito de desenhar o vampiro que Nico Rosso fazia. Esse Quadrinho que foi realizado em 1997 e marca a primeira parceria minha com o roteirista Dark Marcos (que depois viria fazer comigo a série de uma outra loira menos fatal, a Tianinha) e com o arte-finalista Omar Viñole. Inicialmente fora pensado uma edição especial contendo duas HQs inéditas com duas vampiras clássicas do terror nacional, a Mirza do Colonesse e Naiara no traço desse vosso escriba aqui. A tal edição que pareceria uma publicação interessante, não aconteceu. Depois, pensou-se em uma revista mix de Quadrinhos, onde a loirona vampira seria a capa e o destaque do primeiro número. É... bem, vocês sabem o que aconteceu? Por essas e outras a idéia de reviver a personagem não decolou e Naiara acabou indo para a gaveta. Só recentemente a convite do desenhista JJ Marreiro que estava muito interessado em publicar essa HQ inédita, acabei encaminhado para que a publicasse no seu zine Manicomics.
            
Atualmente o gênero terror parece ter tido uma revitalização, pelo menos lá fora, com HQs de zumbis e coisas assim; aqui no Brasil, um gênero tão popular e que durante muito tempo fora produzido por todos esses mestres que cultivamos, parece causar desinteresse. Talvez porque o terror esteja mais do que nunca presente em nossa vida diária e o charme destes “monstros clássicos” do terror não cause tanto frisson hoje em dia. Vai saber. Mesmo assim, Naiara por mil razões que seu estilo de ser nos mostrou ao longo de sua existência, é ainda hoje uma personagem que poderia tranqüilamente circular, atuar em nossa moderna HQ, perfeitamente adequada a nosso mundo caótico, frio, preso a imagens, sexo e no seu próprio umbigo, assim como Naiara sempre foi. Mas quem sabe, talvez esse mesmo mundo seja demais até mesmo para ela.

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