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HQ fantástico-filosóficas: gênero único no Brasil: dois estudos de caso (Parte III)
Por Gazy Andraus
01/11/2010

Como se viu em meu artigo anterior (veja aqui e aqui), as histórias em quadrinhos chamadas de “Fantástico-filosóficas” são um estilo único nacional, quiçá mundial! Nesse artigo pretendo mostrar alguns elementos deste gênero de narrativa imagética de HQ para que se enxergue melhor as diferenças em sua estrutura e seu conteúdo, das de narrativas tradicionais.

Usarei como exemplo duas HQ: uma de Edgar FrancoAnomalia”, e a outra de minha autoria “Os homens armados de paz”. Ambas foram publicadas no único número da revista “Fêmea Feroz” em 1997.

Há muitas HQ mais recentes, de vários autores, principalmente de minha autoria e de Edgar Franco, autor que tem tornado seu universo imaginativo cada vez mais complexo devido às suas pesquisas que tocam questões de bioengenharia e ética. Mas estas duas têm apenas uma página cada, e por serem autorais e artísticas, são universais e atemporais como se poderá verificar, além de estarem atreladas ao ideário de cada um de nós, autores da linha “fantasia-filosófica”.

Assim, vamos à análise da primeira HQ, “Anomalia” (fig. 1):

Uma personagem segura um bebê, em um mundo ficcional científico (os personagens também remetem à extraterrestrialidade). Os dois textos que emanam da figura “feminina” expõe que houve uma anomalia no processo de geração de um ser vivo. Não se explica como se deu o processo, se de forma sexuada natural, ou devido a algum outro tipo de experimento, mas transparece na fala do personagem que: “foi um erro...abalar nossa perfeição”. Ao final, enquanto a figura solta o pulso da criança para que caia de vez no abismo, surge por completa a face do ser que a segurava, demonstrando ter duas cabeças: uma feminina e outra masculina, revelando androginia. Ao mesmo tempo, o andrógino declara no último quadrinho que a falha aconteceu “gerando um ser polarizado...incompleto”, arrematando o que revelara na primeira fala.

Esta HQ é parte de toda a complexidade que a obra de Edgar Franco tem se apresentado na atualidade, tanto no quadrinhos como em seus projetos musicais, como o “Posthuman Tantra”. Além disso, expõe questões filosóficas com base em reflexões de conceitos e até fatos. Edgar, na mesma revista que publicou essa HQ expõe as influências de “Anomalia”: uma reportagem sobre gêmeas siamesas norte-americanas, que muito repercutiu na mídia à época, fomentando vários questionamentos ao autor, como a idéia da alma, noção de perfeição e imperfeição, solidão e o princípio universal da dualidade. Além disso, menciona a história não oficial da evolução das humanidades, como teorias de H. P. Blavatski e sua Doutrina Secreta, na qual expõe que uma das fases da humanidade era andrógina.

Na minha HQ “Os homens armados de paz” (fig. 2) o conceito gira em torno da questão dual entre a belicosidade humana e a vontade de viver harmonicamente, bem como expõe minha crítica à visão simplória das ações de super-seres, caso esses existissem, propondo uma crítica a essa visão idealista humana. Como na HQ de Edgar, a estrutura de diagramação da página é fora do padrão, e no meu caso, flerta com as possibilidades interativas da tela do computador, simulando uma visualização em que “janelas” se abrem sobre janelas desde o centro. A narrativa enfoca um grupo de “heróis” que voam até o pico de uma montanha rochosa, e lá desarmam a cidade que vivia em guerra. Sem armamentos, fica a mensagem ao leitor, de que a única arma para o grande mal da violência é a não manutenção de equipamento bélico: ou seja, a não-violência, “ahimsa”, já experimentada por Gandhi. Na verdade, esta premissa, embora atualmente pueril e ingênua, traz à tona que se super-seres realmente existis

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